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domingo, 15 de fevereiro de 2015

O Palhaço

O cinema nacional é visto por boa parte da população como um aglomerado de produções apelativas e sem qualidade. Essa perspectiva é justificada pelo nosso histórico de produções com alto teor puramente pornográfico (pra não dizer sacanagem desenfreada) e filmes atuais totalmente vazios de talento em roteiro e a tuações. Isso quer dizer que o cinema norte-americano é o paraíso?
Claro que não, eles fazem desastres monumentais! Acontece que o volume de produções e investimentos lá é infinitamente maior, logo as chances de coisas boas também aumenta. Dá pra perceber isso quando se nota no começo de O Palhaço a quantidade absurda de patrocínios necessários pra que ele pudesse ser realizado aqui no Brasil. E nem vou entrar no cinema europeu, pois aí teriamos um outro texto totalmente diferente e demasiadamente grande.
E pra quê tudo isso? De modo simplificado, é apenas uma introdução pra dizer que, com frequência vagarosa, mas existente, o nosso país consegue render boas histórias, como em O Palhaço (2011), escrito, dirigido e atuado pelo já conhecido Selton Mello.
Na trama encontramos Benjamim (Selton Mello) e Valdemar (Paulo José), filho e pai, ambos palhaços que gerenciam um circo itinerante, composto por um trupe peculiar que conta com tudo que um espetáculo de verdade precisa: de anão à mágico. Lembra quando chegava na sua cidade um carro de som berrando sobre o "incrível circo real espanhol bla-bla-bla" e que, no final das contas, se resumia a uma lona desgastada, palhaços, truques suspeitos e sempre uma nova atração por noite? Pois bem, seria mais ou menos isso. E só pra constar, no meu caso era o "lendário" Circo de Mônica com sua entrada de 50 centavos.
O problema se dá quando Benjamim começa a questionar o sentido de suas escolhas e de seu papel no mundo. "Certo, eu sou um palhaço e divirto as pessoas, mas quem vai me fazer rir?". Junte um enredo singelo, peculiar e bonito com um elenco inspirado, boas referências a grandes nomes da comédia do passado com uma trilha sonora ímpar, que mescla diversos elementos da cultura circense com belas canções de outras décadas e terá um resultado admirável. Sou um verdadeiro entusiasta quando se trata de boas trilhas!
Em cerca de 1:30h somos apresentados a uma história leve, porém paralelamente intensa, comovente e reflexiva sobre qual papel devemos desempenhar nesse palco chamado mundo. Os mais saudosistas irão se deparar com antigas músicas que incluem Nelson Ned e nomes bem conhecidos como Moacyr Franco, Tonico Pereira e Jackson Antunes interpretando alguns personagens ao longo da trajetória da trupe. Os mais atentos também irão reconhecer outras grandes personalidades, porém prefiro não estragar a surpresa. Selton Mello conseguiu orquestrar uma obra dramática, divertida e esperançosa, compensou toda a expectativa depositada introduzindo na película um ventilador com um valor metafórico muito maior do que a sua própria utilidade. É uma história que merece ser vista e revista, sem ressalvas.
O gato bebe leite, o rato come queijo e você, o que faz?



Gênero: Drama
Direção: Selton Mello
Ano: 2011
Nota: 4/5